No momento em que escrevo, às 19h de uma sexta-feira ponte de feriado, a Gjøa, a câmera que usamos para gravar o filme, está a caminho de casa.
É estranho. Já me imaginei escrevendo este post muitas vezes. Em algumas, achei que estaria super triste. Em outras, supus que conseguiria encaminhá-la a outro projeto de cinema ou de pesquisa. Ou a outra equipe maluca. E não estaria triste, mas contente.
Algumas coisas parece que ficam em suspenso, sem resolução. Elas pendem, pairam. E continuam pairando, quem sabe por anos, até que algo – um algo nunca muito explicável – as traz de volta, as resolve. Com a Gjøa, estes últimos meses foram assim: indefinidos, em suspenso. À espera.
Mas, conforme o “Poder para o povo” do Seychelles começa a tocar no player, sinto-me um pouquinho triste, é verdade, mas em paz. A Elphel voltar para casa é um marco. É a constatação concreta de que o projeto, assim como estes posts, estão chegando ao final. É o fim para o novo começo. E uma série de frases me volta à cabeça, talvez impulsionadas pelo making of que estamos fazendo e no qual estivemos trabalhando ontem e hoje.
Houve muita coisa especial neste projeto. E, se não posso dividir todo o antes do fim do mundo aqui, acho que posso compartilhar algo muito especial, que aconteceu logo depois.
– E então, vamos tirar a roupa e entrar na água?
– Mas você acabou de botar o pé no mar, está congelando! Deve estar uns 10 graus!
Silêncio. No rádio, toca Gobbledigook, do Sigur Rós.
– A gente pode voltar amanhã, depois de mergulhar!
– A gente não vai voltar amanhã.
Não fui eu quem começou o diálogo. Mas eu quem saiu primeiro do carro pelado e gritando na noite. E foi muito da hora.
O mar, sempre o mar.
Boa volta pra casa, Gjøa. Até a próxima aventura.